-Entrevista com
Jim Carbonera-
Hoje trago o primeiro "Entrevista sem Revista", onde vou entrevistar autores que toparem responder as perguntas que irei fazer. O primeiro a fazer a entrevista foi Jim Carbonera, autor de 3 livros e parceiro do Blog. Quem é Jim Carbonera? Jim Carbonera nasceu no Brasil, em 27 de fevereiro de 1982. Natural de Porto Alegre, reside ainda hoje na cidade que serve de inspiração para suas escritas. Iniciou escrevendo contos sobre o cotidiano, expandindo-se com o tempo para outras áreas literárias. A partir de autores latino-americanos, como o chileno Alberto Fuguet, o cubano Pedro Juan Gutiérrez e o brasileiro Reinaldo Moraes), injetou alma e realismo à sua narrativa. Formou-se em turismo, exercendo a profissão por quatro anos e abandonando-a para dedicar-se integralmente à literatura. Suas obras têm como cenários ambientes ríspidos, libertinos, melancólicos e atrozes, e seus personagens possuem a subversividade como características principal. Segue o estilo literário do Realismo Urbano. Tem como projeto pessoal escrever — em forma de ficção — obras que relatem o ciclo urbano de Porto Alegre. Onde narrará as particularidades da cidade, dos seus moradores e dos visitantes que dão vida e personalidade para essa metrópole tão peculiar. É autor dos livros Divina Sujeira (Boêmia Urbana, 2011), Verme! (Boêmia Urbana, 2014) e Royal 47 (Giostri, 2015). Obras que fazem parte do projeto acima citado. Então chega de enrolar e vamos a entrevista: 1- Como foi sua infância, em relação a literatura? Foi bem afastada dos livros. Infelizmente esse é um dos motivos que desprezo as leituras obrigatórias, pois tenho a convicção que ela mais afasta os jovens dos livros que atrai. A leitura deve ser orientada mas não obrigatória. Cada um tem um perfil de leitor. Fui começar a gostar de ler depois dos 16 anos, através dos livros do Sherlock Holmes. Depois li Charles Bukowski e mudou minha vida. Vi que a literatura poderia ser boêmia e indiscreta. A partir daí conheci meu autor preferido, o cubano Pedro Juan Gutiérrez. Enfim, respondendo mais diretamente sua pergunta, não tinha intimidade com a literatura na minha infância. Fui tê-la muitos anos depois. 2- De onde vem a inspiração para seus livros? Sua família sempre o apoiou, ou teve alguma desavença? Minha inspiração vem da parte mais sombria do ser humano, aquela que desejamos esconder. Aí está para mim o lado mais verdadeiro dos indivíduos. Gosto de explorar isso. Tento pôr nos meus textos sempre algum personagem subversivo. Os cenários me inspiro nas grandes metrópoles; Porto Alegre, principalmente. Como escrevo Realismo Urbano, não posso fugir disso. Gosto de ouvir histórias verídicas e pesquisar casos que saiam do denominador comum para acrescentar a minha narrativa. No começo ninguém me apoiou. Artista no Brasil é tido como vagabundo. A arte é vista como um hobby. E luto ferrenhamente contra isso. Tento provar que a arte é como uma profissão qualquer. Que não só quem está na mídia é que vale. Um cantor de boteco deve ser tratado com o mesmo respeito que um que faz grandes shows. Falando mais especificamente no meu caso, com o tempo, conforme os livros foram sendo lançados e cartas e e-mails de leitores chegavam a mim, o pessoal começou a respeitar. Hoje em dia já tenho um apoio maior aqui de casa. 3- Com qual dos seus livros você mais se identifica? Por quê? Isso é uma pergunta que não tenho certeza, mas acho que o Divina Sujeira. É o livro mais intenso e transgressivo. Onde escrevi de maneira insana e excitada. Acho que foi o livro que coloquei todas as minhas vísceras para fora. E saiu um livro bastante selvagem. 4- O que você tem a dizer sobre seus livros? E sobre seus leitores e fãs? Sobre os meus livros, posso afirmar que não abro concessões sobre a ferocidade deles. Quero que o leitor sinta o corte na pele. Minha narrativa é honesta, sincera, sem meias palavras. Acho que estamos num momento crítico da literatura, onde o mercado abraça cada vez mais fantasias e romances infanto-juvenis que acabam idiotizando o leitor. Obviamente que todo tipo de literatura tem sua importância, o que me incomoda é quando vira quase um monopólio. E o que me entristece ainda mais, é que o público brasileiro vai na onda. Não pesquisa. Se guia pelo que tá em alta, como um barco à deriva. Vai conforme a maré. Sobre os meus leitores, não posso me queixar. São ótimos. Tenho uma relação muito próxima com eles. Como sou um escritor, digamos, lado-b, trato-os com máxima atenção. Sem arrogância ou indiferença. Me gratifica muito o carinho por mim demonstrado. Sei que o conteúdo dos meus livros não é de fácil digestão pela maneira explícita com que os escrevo, porém, ao mesmo tempo, assim como perco leitores, os que gostam criam uma espécie de fidelidade. E isso é o que vale. Não quero ser um escritor que aparece com um grande livro e depois some. Quero estar sendo sempre lido por uma fatia, mesmo que pequena, mas fiel de leitores. E, principalmente, transformá-los em meus amigos. 5- O que pode nos dizer sobre seu mais novo livro "Royal 47"? E sobre o que está em processo de criação? Royal 47 evidencia o protagonista Rino Caldarola numa fase mais ação e menos reflexão. Ele abandonou a comodidade de morar com os pais e agora reside sozinho no bairro boêmio de Porto Alegre. Começa a datilografar seu primeiro romance numa máquina de escrever que carinhosamente apelidou de Royal 47. E se deixa consumir pela efervescência do bairro onde mora. Transformando-se num ser mais prático e menos teórico. O próximo livro, que ainda não tem título, eu projeto que seja o último livro com o mesmo protagonista. Meu objetivo foi sempre escrever quatro livros com o Rino. De repente, daqui uns 15 ou 20 anos, eu escreva o Rino em sua fase coroa, apresentando ao leitor como ele está, o que conquistou e o que perdeu ao longo dos anos etc. Mas isso ainda não é uma certeza. Como conteúdo, o novo livro que estou acabando de escrever, terá o Rino tentando consolidar sua carreira de escritor em meio a um Brasil em crise. Baterá de frente com o novo tipo de sociedade que está surgindo, o que ele chama de Legião da Moral e dos Bons Costumes. Tentará não se deixar levar por essa nova ordem social e se esforçará para manter-se caminhando na corda bamba da insensatez. Outro ponto forte da obra, será o relacionamento com a poetisa chinesa de nome Mei Mu e com a punk de boutique chamada Rayane. Ambas farão o protagonista confrontar alguns dos seus princípios que nunca antes questionou. 6- Uma mensagem a pessoa (s) mais importante (s) para você. Na verdade, minha mensagem vai para todos os meus leitores, que ao me lerem estão correndo na contramão editorial e de mercado. Estão abrindo portas para novos escritores. Para artistas que não estão apenas pelo dinheiro e sucesso, e sim, pela paixão. São leitores com coragem e colhões. Que demonstram que a literatura vai muito além do que nos vendem e nos obrigam a ler. E estão dispostos a bater de frente com qualquer tipo de imposição mercadológica. Jim, muito obrigado por ceder um pouco de seu tempo para responder a nossas perguntas! Contatos do autor: Site: www.jimcarbonera.com Facebook: Jim Carbonera Istagram: @jimcarbonera Twitter: @jimcarbonera "É estranho as pessoas colocarem o insucesso e as derrocadas dos relacionamentos no pobre do amor. Não, não. Ele é o menos culpado. Não morremos de amor, é a desilusão e o desgosto que nos esmagam. São nossas próprias ideias, lembranças, perspectivas e agonias que nos transformam em seres introvertidos, amargurados e mal amados." -Royal 47, Jim Carbonera Entrevista by Kevy |